A grande universidade, o foco na excelência e os rankings internacionais
Hamilton Varela
Professor Titular do Instituto de Química de São Carlos da USP
José Eduardo Krieger
Professor Titular da Faculdade de Medicina da USP
Publicado no Jornal da USP em 23.09.2020
https://jornal.usp.br/?p=356728
A Universidade de São Paulo é uma universidade de pesquisa que tem buscado incessantemente se reinventar em busca da excelência. Não somos os únicos neste universo e os rankings reúnem diferentes indicadores para, de alguma maneira, comparar esforços e principalmente resultados de instituições espalhadas pelo globo. A edição de 2021 do ranking universitário da Times Higher Education (THE) é alvissareira para a USP. Os resultados do THE World University Rankings foram divulgados no dia 2 de setembro e mostram a USP na faixa das 201-250 melhores instituições de um total de 1.527, e é a universidade brasileira mais bem classificada. O THE é um ranking internacional respeitável e em avaliações recentes (2017 a 2020) a USP apareceu no grupo 251-300. A evolução recente da USP é consistente com outras classificações. Na edição de 2021 do QS World Ranking, a USP atingiu a sua melhor posição desde 2018 e é hoje a 115ª melhor universidade do mundo.
Uma análise mais detalhada do ranking THE aponta que a USP é a 29ª maior universidade do mundo em número de alunos e que está bem à frente das outras 28 maiores na classificação geral. Em outras palavras, todas as universidades à frente da USP na edição de 2021 do ranking THE atendem a um número consideravelmente menor de alunos que a USP, que conta com cerca de 84.000 estudantes. Em 2020, a USP recebeu cerca de 11.000 alunos em 182 cursos de graduação, distribuídos em seus oito campi espalhados pelo Estado. São números vultosos, incomuns entre as universidades de pesquisa, e indicam claramente que a Universidade consegue unir quantidade e qualidade, servindo amplamente à sociedade sem comprometer a excelência em suas atividades-fim. O binômio tamanho e desempenho encontra talvez seu ápice na Universidade de Toronto, com cerca de 74.000 alunos e o 18º posto no ranking THE.
Em um cenário de acirrada competição internacional com instituições de maior tradição, mais recursos, mais focadas e menores, há muito a melhorar, e a USP vem trabalhando nesse sentido. Os projetos acadêmicos instituídos recentemente induziram uma reflexão sem precedentes sobre a missão, visão e valores da Universidade sob a ótica do docente e que no futuro construirá uma visão mais coletiva dos departamentos, das unidades e da própria Universidade. Com a sua implementação foram ainda introduzidos processos de avaliação em diferentes níveis, com a definição clara de metas a serem cumpridas em ciclos avaliativos de cinco anos. A perenização deste processo é fundamental para consolidar o ethos da instituição, dirigir o esforço dos gestores em compatibilizar as expectativas individuais e o nosso papel na sociedade. A interface com a sociedade e a organização interna da pesquisa também estão sendo consideravelmente melhoradas com as novas ferramentas de tecnologia da informação que permitem disponibilizar, quase que em tempo real, os esforços e os resultados dos docentes na pesquisa, no ensino e na extensão.
A atual crise sanitária demonstrou a importância de a Universidade ter estoques de conhecimento e capacidade analítica para se debruçar sobre grandes quantidades de dados que orientam e subsidiam as políticas públicas. Finalmente, a despeito da crise de financiamento recente e do questionamento sobre a importância da autonomia universitária, há excelentes perspectivas para a internacionalização. O Programa Institucional de Internacionalização (PrInt) da Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) consolida os recursos (quase R$ 144 milhões para o período 2019-2023) que antes encontravam-se pulverizados, permitindo seu uso racional e em ações estratégicas. A internacionalização em duas vias, com a vinda de estrangeiros, ainda difícil, e a, mais comum, ida de professores, pesquisadores e alunos da USP para o exterior, é de fato um ponto a ser melhorado. Segundo o próprio ranking THE, a USP tem 4% de alunos estrangeiros; um nível de internacionalização consideravelmente mais baixo que o das cinco primeiras colocadas, cujos números variam entre 23% e 41%.
Os rankings universitários utilizam diferentes métricas e refletem distintos aspectos das instituições. Eles destacam aspectos importantes para reflexão e mudanças de curso, mas não direcionam o caminho das universidades. Em particular, os indicadores de desempenho no ranking THE estão agrupados em cinco áreas com pesos específicos: ensino (30%), pesquisa (30%), citações (30%), internacionalização (7,5%), e receitas oriundas da transferência de conhecimento (2,5%). Todos esses quesitos se encontram contemplados nos fins da USP, descritos no seu Estatuto. Além de celebrar a ascensão nessas classificações, cabe à USP assumir a sua vocação como universidade de pesquisa e atuar com foco nas atividades-fim, privilegiando a excelência.